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‘Vou ver os meus filhos’, diz enfermeira venezuelana interiorizada para o Mato Grosso do Sul

Boa Vista – Durante dois anos, a tela do celular foi o único meio de ver os filhos e os netos. Morando todos no Brasil, mas com mais de quatro mil quilômetros de distância entre eles, Xiomara utilizou o aparelho para guardar fotos enviadas pela família e ter conversas para diminuir a saudade. Foi naquele mesmo telefone que recebeu a mensagem confirmando que o reencontro estava com data marcada.

A travessia da Venezuela para chegar em Roraima durou três dias, entre viagens de ônibus e caminhada até o município de Paracaima, na fronteira. Ao sair do estado venezuelano de Sucre, Xiomara enfrentou a decisão de pausar a carreira 38 anos de enfermeira para buscar melhoria de vida para ela e a família em território brasileiro.

“Sempre fui uma pessoa trabalhadora, era do serviço essencial na Venezuela. Lá, um dos meus filhos estudava engenharia mecânica, uma filha era técnica de enfermagem e a outra funcionária do Estado. Foi difícil deixar nosso país”, relembra.

Quando chegou em Boa Vista, dois filhos já tinham partido para a cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, em busca de ingresso no mercado de trabalho. Enquanto permanecia em Roraima com uma das filhas e o neto, ficou alojada no abrigo Rondon 3 da Operação Acolhida, resposta humanitária do Governo Federal para o fluxo migratório venezuelano.

Xiomara conta que o afastamento da enfermagem foi um momento delicado, principalmente quando assistia notícias sobre a pandemia do novo coronavírus. “Sinto muita falta do hospital. Quando se passa muito tempo na enfermaria, criamos carinhos pelos pacientes e podemos utilizar nossos conhecimentos para cuidá-los”, complementou.

A vontade de reencontrar os filhos cresceu quando buscou o Posto de Interiorização e Triagem (PITRIG) em Boa Vista para viajar por meio da modalidade de reunificação familiar da Estratégia de Interiorização do Governo Federal. Depois do processo de revisão documental, recebeu naquele celular a mensagem da Organização Internacional para as Migrações (OIM) informando que a passagem até o Mato Grosso do Sul estava garantida.

Ela faz parte dos 58.715 refugiados e migrantes venezuelanos apoiados desde abril de 2018 para ir de Roraima e do Amazonas rumo a outras localidades do Brasil. A estratégia visa aliviar as estruturas públicas da Região Norte e ampliar as possibilidades de integração socioeconômica dos venezuelanos que desejam permanecer no Brasil.

“O sentimento que tive ao receber a mensagem... estou muito feliz. Vou ver os meus filhos e meus netos”, disse emocionada no saguão do Aeroporto Internacional de Boa Vista enquanto esperava para realizar o tão aguardado embarque até Ponta Porã.

Para ela, o novo destino é uma chance de conseguir emprego e apoiar a família, incluindo a filha que vai ficar em Boa Vista por querer permanecer ainda perto da Venezuela.

As atividades da OIM na Estratégia de Interiorização são realizadas com o apoio financeiro do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos.