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Venezuelano faz curso sobre café com apoio da OIM e consegue emprego em cafeteria, em Belém

Curso Café Especial. Belem. Foto: Gabriel Castro 

Belém – Crescimento para o futuro. É dessa forma que Giovanni descreve a oportunidade de ser contratado em um emprego no Brasil. Agora, o cheiro do café brasileiro faz parte da rotina do venezuelano ao se tornar atendente em uma cafeteria em Belém, no Pará.

A vivência no Brasil já dura três anos, quando deixou a cidade de Coro, estado de Falcón, na Venezuela, com a esposa para recomeçar a vida. Professor universitário há 15 anos no país de origem, Giovanni chegou em Belém ao receber uma bolsa de estudos da Organização dos Estados Americanos (OEA) para cursar o mestrado em Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Pará (UFPA).

No território paraense, a quase seis mil quilômetros de distância da cidade de origem, a bolsa de estudos deu suporte ao casal até setembro deste ano, quando o curso de mestrado de Giovanni terminou. Em busca de renda enquanto não se firmava na área acadêmica por estar em um país com a língua diferente e por ter pela frente a revalidação dos documentos, ele e a esposa passaram a vender bolos na entrada do bairro Império Amazônico.

Foi quando uma notificação no seu celular mudou tudo. No grupo da Associação de Estudantes Estrangeiros da UFPA, Giovanni soube da possibilidade de fazer um curso sobre café. “Imediatamente entrei em contato com o Israel, o presidente da associação para pedir que me considerasse para fazer parte do curso, sempre pensando na possibilidade de conseguir empego”, relembra.

O curso que Giovanni participaria foi resultado de uma articulação feita em um evento promovido pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) em outubro deste ano na capital do Pará. O objetivo era fomentar a integração laboral de refugiados e migrantes venezuelanos em conversa com empresários de diversas áreas para debater a temática.

Entre os convidados à época, estava Letícia Belamirno, sócia da Mino Coffee School, que promove cursos educacionais sobre o preparo do café. A partir desse contato, surgiu a ideia de apoiar refugiados e migrantes venezuelanos através do conhecimento profissionalizante e para facilitar a integração socioeconômica desse grupo.

“Me falaram que havia pessoas vulneráveis interessadas no curso, então fizemos tudo de forma gratuita com apoio de parceiros. Foram seis alunos, cinco de países africanos e um vindo da Venezuela, todos muito dedicados. E com a experiência de vida e de estudos que eles têm, acrescentaram muito ao ensino também. A nossa missão sempre foi ajudar as pessoas, há mercado e empresários com o interessem em contratar, então fazemos essa ponte”, afirmou.  

Durante a formação, Giovanni e os colegas aprenderem sobre a história do café, as variedades e classificação da especiaria, como escolher um grão de qualidade, conceitos do café coado e métodos de preparo durante dois dias de aulas no espaço do Alquimista Bebidas Especiais.

Depois da finalização do curso e com certificado em mãos, uma nova mensagem chegou no celular de Giovanni. Desta vez, a novidade levaria o venezuelano à oportunidade de emprego. Através da indicação dos professores da formação, Giovanni foi contratado para atendimento ao público na cafeteria Moage.

“O curso abriu minha visão para o mundo do café, que eu não conhecia até aqui. Tenho grande interesse em toda a área da cozinha, também estudei culinária, padaria e pastelaria na Venezuela. Porém, na área de cafés especiais não sabia tudo o que está por trás. Para mim, isso está sendo uma experiência de aprendizagem extraordinária. Este é um novo começo para mim aqui no Brasil. Agradeço a Deus e a todos, pois graças a eles esta oportunidade foi aberta para mim”, comemora.

Para Francisco Batista, assistente de projetos a OIM em Belém e responsável pela articulação para o curso, a iniciativa é um estímulo para a classe empresarial. “A OIM promove a boa prática de sensibilização das empresas. Com isso, presta apoio para tirar dúvidas sobre contratação de refugiados e migrantes, informando sobre documentação e que não existe diferença em relação aos brasileiros”, afirma.

Giovanni terá ainda em dezembro a defesa de dissertação do seu mestrado e está ansioso para ver quais caminhos surgirão depois. “Veremos o que vai vir. É um crescimento para o futuro”, finaliza. Já para a Mino Coffee School, toda experiência foi significativa e já planeja um novo curso com a população refugiada e migrante.  

As atividades da OIM contam com o apoio financeiro do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América.