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Refugiadas e migrantes venezuelanas aprendem a transformar banners antigos em bolsas reutilizáveis, em Boa Vista (RR)

Boa Vista – Mãos e olhos restam atentos a cada movimento da tesoura e da linha que passa pela máquina de costura. Entre uma medição do tecido e a conferência do tamanho dos acessórios que irão compor o objeto, refugiadas e migrantes venezuelanas aprendem a transformar antigos banners informativos em bolsas reutilizáveis. O material, que seria descartado, agora é a matéria-prima que permite um novo produto e fomenta a integração socioeconômica dessa população. 

A capacitação, desenvolvida pela OIM, Agência da ONU para as Migrações, em parceria com o Programa de Artesanato de Roraima, da Secretaria de Estado do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), foi pensada e estruturada com a finalidade de fortalecer a autonomia financeira de mulheres que vivem em ocupações espontâneas da capital roraimense, assim como mitigar os impactos ambientais do descarte dos banners que já não tinham mais utilidade.  

“Ao visualizarmos a grande quantidade de banners que seriam descartados, veio a ideia de reutilizá-los com a produção de bolsas resistentes, reunindo a questão da geração de renda e autonomia para mulheres e a ambiental. Assim, foi feito um mapeamento nas ocupações espontâneas para identificar o público-alvo”, explicou a consultora de psicologia da OIM, Mayra Meotti.  

Além da possibilidade de integração socioeconômica para essas mulheres, a atividade foi pensada também para proporcionar um momento de socialização que reforça os cuidados em saúde mental. “Contar com uma rede de apoio é muito importante para essas mulheres que saíram de seus países de origem e têm uma ruptura com seus vínculos primários, então buscamos fortalecer a sua integração no país para que possam criar e expandir esses laços locais de cuidado e atenção”, complementou Meotti. 

Nessa fase inicial, foram capacitadas três lideranças comunitárias para se tornarem multiplicadoras dos ensinamentos aprendidos durante a oficina. Entre elas, estava Norielbys, que deixou a Venezuela há sete anos em busca de oportunidades de emprego e melhores condições de vida. “Isso está sendo ótimo, principalmente para nós que não temos um emprego fixo. É uma atividade que nos motiva para seguir em frente e, quem sabe, podermos empreender. Estou muito feliz e com muita vontade de aprender!”, disse. 

Junto com ela, estava Lilibeth, artesã indígena Warao, que se encontra no Brasil há seis anos. “Me sinto muito orgulhosa de participar porque é a primeira vez que estou usando uma máquina [de costura]. Terei mais conhecimento, o que não sei, poderei aprender aqui”, frisou.  

“Foi muito gratificante essa oportunidade e parceria. É a primeira vez que estamos fazendo um trabalho de reciclagem com esse material. Vamos ter um novo conhecimento e, para elas, pode ser uma forma de geração de renda. Todo nosso trabalho é com base em possibilitar esse empreendedorismo”, relatou a chefe do Programa de Artesanato, Maria Joilda Freire, a Dona “Joia”, da Setrabes. As capacitadoras, máquinas de costura e o espaço para as aulas foram cedidos pela instituição. 

Para a fabricação das bolsas houve ainda um cuidado para que as informações iniciais não fossem perceptíveis. Os cinco banners utilizados na ação foram recortados em peças pequenas que foram costuradas com os textos e imagens voltados para seu interior. Ao final da aula, 12 sacolas reutilizáveis estavam prontas. 

Uma segunda turma para a reciclagem dos banners em desuso já está prevista. 

A ação faz parte das ações realizadas pela OIM em apoio à população refugiada e migrante venezuelana vulnerável que se encontra no estado de Roraima, fronteira com a Venezuela, que levam informações sobre direitos e serviços da rede local, capacitações e auxílio em saúde e no combate à insegurança alimentar. 

As atividades da OIM para a confecção das bolsas sustentáveis contam com o apoio financeiro das Operações de Ajuda Humanitária da União Europeia (ECHO).