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Projeto para mulheres venezuelanas e de países vizinhos abre caminho na indústria de costura do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro — A venezuelana Fenix tem no currículo um diploma técnico de nível superior em Turismo, mas já trabalhou como professora, secretária e auxiliar odontológico. Agora ela se prepara para assumir uma nova profissão como costureira industrial, ofício que está aprendendo em um projeto de capacitação que as Mulheres do Sul Global (MSG) estão implementando no município do Rio de Janeiro, em parceria com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Desde junho de 2021, o projeto MSG LAB: Costurando Oportunidades vem oferecendo um curso intensivo de qualificação profissional em costura industrial para mulheres venezuelanas e migrantes de países vizinhos ao Brasil em situação de vulnerabilidade. Até o final do ano, pelo menos 160 mulheres como Fenix serão beneficiadas pela iniciativa, que busca impulsionar a geração de renda desse público no Rio de Janeiro.

Além do treinamento em habilidades técnicas da área, a iniciativa também oferece um itinerário formativo de desenvolvimento humano, com o objetivo de aprimorar as competências socioemocionais das participantes e orientá-las sobre seus direitos no Brasil, promovendo o acesso à informação e impulsionando sua participação cidadã.

A capacitação, desenvolvida pelo Serviço Social da Indústria (SESI), da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), divide-se em cinco temáticas para abarcar diversos aspectos da integração socioeconômica no Brasil: identidade, autocuidado, direitos humanos, mercado profissional e projeto de vida. Somando ainda alguns exercícios de oratória para o mercado de trabalho, o projeto oferece uma formação com carga horária total de 140h.

Para as beneficiárias da primeira turma, que nunca haviam sentado diante de uma máquina industrial na vida, incluindo Fenix, o itinerário intensivo proporcionou uma imersão no universo da costura e abriu novos caminhos rumo à desejada autonomia financeira. Recém-chegada ao Brasil, a venezuelana reconhece que tem experiência em outras áreas, mas vê com naturalidade essa mudança de rumo profissional.

“Muitos migrantes saem da sua zona de conforto porque estudaram algo e conseguiram trabalhar com o que estudaram em seus países, mas, quando você migra, precisa tomar uma decisão de aproveitar ou não as oportunidades”, explica Fenix. “E o que todos fazem é aproveitar, aprender, trabalhar, sempre com mentalidade positiva. Aprender algo novo não é ruim, é bom. Todos os meus trabalhos foram diferentes, mas eu aprendi muito. É o destino de todos os migrantes, mas também de todas as pessoas: continuar aprendendo.”

Para a fundadora das Mulheres do Sul Global, Emanuela Pinheiro, a missão de profissionalizar mulheres refugiadas e migrantes em profissionais de excelência dentro da cadeia têxtil une a necessidade delas de gerar renda à demanda do setor por uma força de trabalho mais qualificada.

 “A construção do nosso programa de aprendizagem, o MSG LAB, é resultado de uma janela de oportunidade em um mercado que carece que profissionais preparadas, da urgência de empoderamento econômico dessas mulheres e de um desejo em ocupar um lugar de referência em educação profissionalizante para quem se dedica ao segmento. É extraordinário receber uma aluna como a Fênix, que nunca havia tocado numa máquina antes e, ao final de três semanas de jornada, vê-la operando o maquinário industrial e concluindo projetos. Num curso regular, isso poderia demorar meses para ser alcançado”, explica a empreendedora.

Além da aptidão e da determinação das alunas, destacam-se a oportunidade de construção de vínculos e o componente de inteligência cultural do projeto. A primeira turma, por exemplo, reuniu mulheres da Venezuela, Colômbia, Haiti, Peru e Brasil, com diferentes experiências de trabalho e histórias de vida. No comando das atividades, guiando as alunas na lida com o maquinário, está a professora Luz, uma venezuelana com 40 anos de bagagem como costureira profissional.

O percurso de aprendizagem se complementa com a transferência do conhecimento sobre a operação da fábrica, que segue à risca os princípios da economia circular. As alunas aprendem a criar produtos a partir da gestão de resíduos têxteis e lonas de publicidade, com conceito estético e rigor nos acabamentos.

Ao final do curso, elas têm chances de serem incorporadas à linha de produção das Mulheres do Sul Global, ser encaminhadas para outras fábricas e/ou atuar como empreendedoras. Por meio de uma parceria com o Instituto Lojas Renner, que além da doação de valores para compra de maquinário, auxiliará intermediando para que algumas alunas sejam indicadas para trabalhar com o SOS Costura, um aplicativo que conecta costureiras a pessoas que precisam fazer consertos em suas roupas.

“Temos orgulho de nos envolver com um parceiro que empodera mulheres, trabalha de forma ambientalmente sustentável e fomenta o potencial positivo das migrações, apoiando o desenvolvimento econômico da comunidade de acolhida, ao atacar uma fragilidade do mercado de trabalho brasileiro, e contemplando vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em um único projeto”, comenta Diogo Felix, coordenador de projeto da OIM no Rio de Janeiro.

A segunda turma do MSG LAB: Costurando Oportunidades já está em andamento, mas há vagas para a turma que iniciará as aulas em outubro. As mulheres interessadas podem enviar uma mensagem de Whatsapp para o número (21) 98024-0027, para saber como participar.

As iniciativas de integração econômica no Rio de Janeiro são realizadas no marco do projeto Oportunidades, implementado pela OIM com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).