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OIM realiza cerca de 300 atendimentos de saúde em comunidades indígenas brasileiras de Roraima

Boa Vista – Entre idas e vindas, mais de mil quilômetros foram percorridos em janeiro pela equipe de saúde da OIM, Agência da ONU para as Migrações, em direção às comunidades indígenas de Roraima. Os caminhos de difícil acesso e travessias de rios que cortam a mata levaram os profissionais aos municípios de Alto Alegre, Bonfim e Uiramutã. Em oito comunidades, foram realizadas 284 avaliações clínicas gerais, ações de apoio à saúde mental e orientações sobre promoção de saúde.

Esse é mais um ciclo de atividades que a OIM realiza para apoiar o sistema de saúde local e em colaboração com o Distrito Sanitário Indígena de Saúde (DSEI) e seus Agentes Indígenas de Saúde (AIS), que facilitaram a triagem dos pacientes.

“Isso é bom para a gente, saber como estamos e realizar esses atendimentos. Ter informações sobre coronavírus e saúde também é importante porque podemos repassar para os outros”, disse o tuxaua (cacique) da comunidade São Francisco, Onédio Vieira.

A OIM, desde 2020, tem apoiado as autoridades locais de saúde no enfrentamento à COVID-19 por meio de ações informativas e rodas de conversas sobre prevenção a doenças e saúde, distribuição de equipamentos de proteção individual (EPIs), capacitações para profissionais de saúde e atendimentos médicos em comunidades remotas indígenas e ribeirinhas dos estados de Roraima e do Amazonas.

O intuito é reforçar o acesso a tratamentos e cuidados, pois com o advento da pandemia do novo coronavírus, as comunidades indígenas, ribeirinhas e rurais dessa região se tornaram mais suscetíveis à doença em decorrência das limitações de transporte para acessar atendimentos de saúde e econômicas para adquirir produtos de higiene que auxiliam no enfrentamento à COVID-19. 

“Temos trabalhado na qualidade da informação divulgada para os indígenas e ribeirinhos brasileiros, adaptando a linguagem à realidade local, gerando reflexão. Percebe-se que os impactos da pandemia na saúde mental estão presentes e essa também é uma prioridade nossa”, citou o coordenador de Saúde da OIM, Diogo Galvão.

Na comunidade indígena da Laje, de 200 habitantes e localizada a mais de 6 horas de Boa Vista, os que eram atendidos, de lá saiam com encaminhamento para exames e receitas para medicamentos que poderiam ser encomendados pelo DSEI ou retirados no posto de saúde de referência.

Para se chegar a essa comunidade, uma das que fazem parte da Raposa Serra do Sol, que abrange os municípios de Normandia e Uiramutã, o caminho passa por uma estrada onde pedras e buracos ditam o ritmo da viagem, que é finalizada com a travessia do rio em uma pequena canoa. A comunicação dos locais é assegurada por um único aparelho celular, que fica em posse da liderança local.

Para se chegar a essa comunidade o caminho passa por uma estrada onde pedras e buracos ditam o ritmo da viagem, que é finalizada com a travessia do rio em uma pequena canoa.

É lá que Delcilia leva os dois filhos, um de 5 anos e o outro de 9. O mais novo demonstra limitações motoras e nenhuma fala e o irmão mais velho, nascido cego e sem as pálpebras, brinca sem sair muito do entorno da genitora. “Eles nasceram na comunidade mesmo, mas o mais novo ficou gripado e foi levado para o hospital do município quando tinha 2 meses. Ficou com sequelas. Vim pelos meus filhos, para saber como estão de saúde”, afirmou.

É lá que Delcilia leva os dois filhos, um de 5 anos e o outro de 9. © OIM Ana Paula Lima

Nas demais aldeias visitadas, que concentram as etnias Macuxi e Wapichana, os cenários se repetem. Com paredes e chão de barro, os postos de saúde são compostos de pequenos quartos que dão privacidade durante as consultas, mas atendimentos também são realizados ao ar livre quando necessário.

Ao redor das unidades de saúde também se concentra o sentimento de solidariedade entre os moradores, informando para os que possuem algum nível de deficiência quando a equipe médica estará presente para ter prioridade no atendimento.

Dina contou com ajuda de outros moradores para levar a neta Dionara, de 6 anos, para a consulta médica. Diagnosticada com microcefalia após o nascimento, a menina precisa de suporte completo. No colo da avó, chegou ao posto de saúde na comunidade de Willimon para receber atendimento médico.

"Hoje já sabemos comunicar com ela. Mesmo ela não falando, mas quando eu falo, ela sorri. Às vezes é difícil ter acesso aos médicos, temos que ir para Boa Vista e é longe. Terem vindo aqui foi ótimo, nos ajuda muito", celebrou.

Dina contou com ajuda de outros moradores para levar a neta Dionara, de 6 anos, para a consulta médica. © OIM Ana Paula Lima

Além do suporte na triagem dos pacientes, enfermeiro e técnica do DSEI fizeram testes rápidos para identificação de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e ajudaram na retirada e solicitação de medicamentos, da mesma forma que indicam como é possível agendar os exames solicitados.  

A OIM promove ao longo do primeiro semestre deste ano novas agendas de atendimentos para alcançar comunidades indígenas de outras localidades de Roraima, dando continuidade aos serviços médicos e de promoção de saúde no estado.

Essas atividades contam com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).