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Mortes de migrantes em rotas marítimas para a Europa duplicam em relação ao ano anterior, mostra OIM

Genebra - Mortes de migrantes que viajam por rotas marítimas perigosas para a Europa aumentaram nos primeiros seis meses do ano. Pelo menos 1.146 pessoas morreram tentando chegar à Europa de barco de janeiro a junho, disse a Organização Internacional para as Migrações (IOM) na quarta-feira (14).

O número é mais do que o dobro de mortes registradas durante o mesmo período no ano passado, e chama atenção para o quão perigosas são as rotas de migração marítima da África para a Europa. 

Em um apelo para que as nações respeitem as leis e obrigações internacionais de direitos humanos, o diretor-geral da OIM, António Vitorino, disse que era hora de implementar "passos urgentes e proativos" para reduzir as perdas de vidas

"Aumentar os esforços de busca e resgate, estabelecer mecanismos previsíveis de desembarcação e garantir acesso seguro e legal a rotas de migração são passos-chave em direção ao alcance dessa meta", disse o diretor-geral. 

Buscas e resgates insuficientes - Novos indicadores do projeto Migrantes Desaparecidos, da OIM (do original em inglês Missing Migrants), destacaram que o pico de mortes anda junto com a insuficiência de operações de busca e resgate, ambas no mediterrâneo e na rota o oceano atlântico para as Ilhas Canário. 

Pelo menos 741 pessoas morreram na rota central no mediterrâneo, enquanto outras 149 perderam suas vidas na travessia do mediterrâneo ocidental, e seis morreram na rota da Turquia para a Grécia do mediterrâneo oriental. No mesmo período, cerca de 250 pessoas morreram afogadas ao tentar chegar às Ilhas Canárias da Espanha na rota África Ocidental / Atlântico. No entanto, essa contagem pode muito bem ser baixa, de acordo com a OIM.

Carcaças invisíveis - Centenas de casos de "carcaças de navios invisíveis" foram reportados por organizações não-governamentais (ONGs) no contato direto com aqueles a bordo ou com seus familiares. Ocorrências como essas, que são extremamente difíceis de verificar, indicam que as mortes em rotas marítimas para a Europa são muito mais frequentes do que os dados oficiais mostram — acrescenta a OIM.

Um dos exemplos citados pela agência da ONU remonta de 24 de março, quando o rapper de 22 anos Sohail Al Sagheer desapareceu depois que ele e nove amigos deixaram Oran, na Algéria, para ir para a Espanha. A família do jovem conduziu uma busca frenética por informações sobre o que teria acontecido com ele, cercada de rumores de que ele teria sido uma das vítimas de um naufrágio em Almeria, na Espanha. Tragicamente, seus restos mortais foram finalmente recuperados em 5 de abril, na costa de Aïn Temouchent, na Argélia.

Norte da África - Os últimos dados disponíveis também mostram um aumento pelo segundo ano consecutivo das operações marítimas dos Estados do Norte da África  na rota central. Mais de 31,5 mil pessoas foram interceptadas ou resgatadas por autoridades norte-africanas na primeira metade de 2021, comparadas com 23,117 nos primeiros seis meses de 2020. 

Na costa da Tunísia essas operações aumentaram 90% no primeiro semestre de 2021 quando comparado com o ano anterior. Adicionalmente a isso, mais de 15,3 mil pessoas retornaram para a Líbia nos primeiros seis meses de 2021, quase três vezes mais do que no período equivalente em 2020. Os números são preocupantes, uma vez que muito dos migrantes que retornaram à Líbia estão sujeitos à detenção arbitrária, extorsão, desaparecimento e tortura.  

Lacunas persistentes - O resumo fornecido pela OIM destaca as lacunas persistentes nos dados sobre migração marítima para a Europa. Sobre a falta de informação, o diretor-geral da agência foi taxativo: "A OIM reitera a chamada aos Estados para tomar medidas urgentes e pró-ativas para reduzir as vidas perdidas na migração marítima em rotas para a Europa e honrar suas obrigações diante da lei internacional", disse.