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Goleada da integração: Copa Pernambucana dos Migrantes e Refugiados celebra a diversidade

Foto: Franklin Rivas

Foto: Ivson Henrique / AMCS MPPE

Foto: Franklin Rivas

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Foto: Edjane Santana

Recife – O time da Venezuela levantou a taça, mas a vitória é de todos que promoveram a integração durante a Copa Pernambucana dos Migrantes e Refugiados. Esse foi o principal legado do evento, que comprovou na prática o seu lema: “Juntos somos melhores”. 

Os jogos aconteceram no último domingo (12) na Arena Pernambuco em Recife, com seis equipes divididas em times femininos e masculinos, reunindo doze nacionalidades diferentes. A final da edição foi entre a equipe da Venezuela e de Benin, no qual a equipe “La Vinotinto” – como é conhecida a seleção venezuelana de futebol – ganhou a partida por 1 x 0 e sagrou-se campeã.

Ao todo, 120 jogadores participaram das partidas envolvendo representações de Angola, Benin, Venezuela e Senegal, sendo oitenta atletas do gênero masculino, e quarenta atletas do gênero feminino. 

Palestras, apresentações culturais e feira de empreendedores migrantes completaram a programação que mobilizou mais de 350 pessoas nos três dias do evento. 

A atividade visou impulsionar a integração de refugiados e migrantes por meio do esporte. “A Copa possui resultados em desenvolvimento, pois não estamos limitados a um evento. Mas se pretende ampliar o debate e propor políticas públicas em Pernambuco para refugiados e migrantes”, disse um dos idealizadores da Copa e assessor jurídico e de incidência política da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2, Daniel Lins.  “É preciso dar seguimento ao movimento que o evento gerou para que haja, efetivamente, ações para essa população”, completou Lins.  

No domingo, a abertura dos jogos contou com apresentações culturais de danças típicas latino-americanas e africanas de grupos residentes do Recife. Além de uma feira de empreendedores com vestuário e artesanato de diferentes países, incluindo produtos feitos por indígenas venezuelanos Warao. 

“A OIM está comprometida com ações que fomentem a integração da população migrante. A Copa tem esse importante papel de aproximar pessoas de diferentes origens e a comunidade de acolhida, como também integrar distintas instituições que buscam a sensibilização ao tema. O evento possibilitou ainda o desenvolvimento de habilidades pessoais, a liderança e o trabalho em equipe dos participantes”, avaliou Eugênio Guimarães, coordenador de projetos da Agência da ONU para as Migrações (OIM), uma das apoiadoras da iniciativa. 

Jogada ensaiada: inclusão e fortalecimento de identidades

Eduardo Galeano escreveu em seu livro “Futebol ao Sol e à Sombra” que: “Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico: — Uma linda jogada, pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre — sem me importar com o clube ou o país que o oferece". Nessa narrativa, de quem transita e respeita, o escritor uruguaio estaria feliz na Arena Pernambuco. 

No estádio, ele veria jogadas como os desarmes e arrancadas ao ataque que a zagueira Sindatche, 29, fez durante o empate de 1 x 1 entre as equipes femininas. Formada em Ciências Biológicas, a jogadora é polivalente no campo e na vida. Ela, que atua em diversas posições, nasceu no Brasil, mas traz como herança o elo africano de seu pai que nasceu na Guiné-Bissau. “É um esporte que pratico há muito tempo, e esse tipo de evento é muito bom para rever e fazer novos amigos, e aumentar os laços”.

O futebol também pode refletir as ferramentas de pertencimento e coletividade. “Eu joguei para representar a África, porque mesmo não estando na nossa terra mãe, mesmo nascendo em outro país, temos que exercer nossa africanidade. E as experiências da minha família me trazem muito orgulho, e uma força de continuidade para realizar ações que perpetuem nossa cultura”, complementou. 

Outro competidor que dribla as barreiras linguísticas em campo, faz marcação cerrada contra a discriminação e socializa suas conquistas como fosse um gol na prorrogação é o psicólogo David, 46. “Eu quero comemorar criando mais espaços de integração cultural, esportiva e social. A população precisa dessa ponte, e dessas outras possibilidades de vida”. Natural de Caracas, capital da Venezuela, reside há 5 anos em Pernambuco e fez parte da campanha vitoriosa do time que representou seu país de origem. 

David teve a experiência de colaborar na organização do time, onde os treinos eram num campo de terra, entre Olinda e Recife, para facilitar a chegada de todos para um momento de inserção social e lazer. “Interagimos também com amigos da Colômbia que participaram do nosso time e que, no final, a Copa possibilitou comemorar o sonho, juntando várias nações para fortalecer nossas conexões”, disse.   

A Copa Pernambucana dos Migrantes e Refugiados foi realizada pela Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 (CBNE2), Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Defensoria Pública da União (DPU), Defensoria Pública do Estado de Pernambuco (DPPE), Ordem dos Advogados do Brasil Seção Pernambuco (OAB/PE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),  Group d’Embassadeurs pour le Développement  (GADE), Consulado Honorário da Costa do Marfim no Recife, Escritório de Assistência à Cidadania Africana em Pernambuco, Greenpeace, Prefeitura Municipal de São Lourenço da Mata e o Governo do Estado de Pernambuco.

A iniciativa conta com o apoio financeiro da OIM, por meio do projeto Oportunidades – Integração no Brasil, realizado com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) e da Federação Pernambucana de Futebol (FPF).