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Desfile de moda em Brasília destaca arte indígena venezuelana e brasileira

Brasília – A 4ª edição do Brasília Trends Fashion Week (BTFW) colocou em evidência a arte produzida por indígenas Warao, da Venezuela, e da comunidade brasileira Yepá Mahsã, da etnia Tukano. O desfile de moda inclusiva e plural foi realizado entre os dias 8 e 10 de dezembro, no SESC Guará, e teve como madrinha a atriz, empresária e ativista brasileira Luíza Brunet, defensora de diversas causas sociais, entre elas o enfrentamento da violência doméstica.

Na passarela do BTFW 2023, modelos exibiram os colares, pulseiras e brincos de miçangas e materiais naturais confeccionados pelas artistas indígenas. “Me sinto bem de ver minha arte em um evento de moda, isso nos ajuda a conquistar autonomia, pois dependemos destas vendas”, afirmou Yuda, indígena Warao que vive no abrigo Raio de Luz em São Sebastião (DF), mantido pela Cáritas Arquidiocesana de Brasília.

“Ficamos encantados de ver nossos adereços e biojoias desfiladas por pessoas não-indígenas, isso dá visibilidade para a nossa cultura”, afirmou Álvaro César, da família Tukano Yepá Mahsã, que vive no Distrito Federal. No entanto, segundo ele “é preciso ampliar os espaços de fala, dizer que nós indígenas não somos apenas vendedores de artesanato.” A família de César é originária da comunidade Balaio, território do povo Tukano no estado do Amazonas.

Para Shirlene, que também é do povo Tukano Yepá Mahsã, “os horizontes estão se abrindo cada vez mais para se falar sobre a arte e as políticas voltadas para as questões indígenas”, disse ela, que vive com sua família em Brasília.

O BTFW é organizado pelo Grupo Cirandinha, que há dez anos promove a inclusão social e a sustentabilidade por meio da moda. A edição de 2023 do evento teve ainda sessões de debates temáticos. A OIM, a Agência da ONU para as Migrações, participou da abertura e da mesa “Tráfico de Pessoas, trabalho escravo e trabalho infantil: uma conexão alarmante no universo da moda".

“Situações de exploração do trabalho de pessoas migrantes e de tráfico são cercadas de estigma para as vítimas”, afirmou Natália Maciel, coordenadora de enfrentamento ao tráfico de pessoas e contrabando de migrantes da OIM. “Estes crimes ainda são subnotificados no Brasil, pois acontece de as pessoas não se perceberem em uma situação de abuso, ainda que estejam sendo exploradas”, completou.

“A informação é primordial para que jovens migrantes se previnam de violências e situações de exploração”, afirmou Luíza Brunet ao compartilhar sua história de vida e conversar com jovens presentes no debate. Para ela, “jovens são os responsáveis pela mudança que o mundo precisa”.

De acordo com os organizadores do BTFW 2023, cerca de 3 mil pessoas passaram pelo SESC Guará durante os três dias do evento, acompanhando os debates, desfiles e prestigiando a feira de artesanato, realizada com o apoio da OIM. Além da arte Warao e Tukano Yepá Mahsã, a feira teve a participação de artistas de países como Camarões, Quênia e Tanzânia.

A jornalista Daniela Cunha, frequentadora do SESC, ficou encantada com o desfile das peças e com a feira de artesanato. “Temos que estimular a confecção desta arte que eles fazem. São bijuterias lindíssimas!”, afirmou.