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Separados há mais de um ano, casal de surdos venezuelanos se reencontra no Rio Grande do Sul

Boa Vista - A chegada do ônibus na Estação Rodoviária de São Leopoldo (RS), representava o fim do longo período de saudade. Separados por mais de 5 mil quilômetros, Laura e Julio César, em uma madrugada de fevereiro, enfim davam o abraço de reencontro para representar que a família não estaria mais distante.

Há mais de um ano, Laura e Julio deixaram o estado de Bolívar, na Venezuela, e iniciaram a trajetória em território brasileiro. Em busca de emprego e novas oportunidades, Julio embarcou sozinho, poucos meses depois de chegar, de Roraima até o Rio Grande do Sul. Em outra região esperava ter mais chances de se integrar no Brasil.

À distância, a notícia que a esposa Laura, que tinha ficado em Roraima, estava grávida veio pouco tempo depois de ele chegar em terras gaúchas. Por conta da pandemia do novo coronavírus, as chances de se encontrarem pareciam ainda mais escassas. O passar do tempo foi sentido com a ausência de Julio no nascimento da primeira filha e no aniversário de um ano de Ashley.

Os meses se seguiam, mas, no início de 2021, Julio e Laura já podiam sonhar novamente com o reencontro graças ao apoio de um brasileiro morador de São Leopoldo. Ao ver o venezuelano em situação de vulnerabilidade por não ter renda fixa, decidiu ajudá-lo. Sem saber a Língua de Sinais Venezuelana, Lindomar iniciou a comunicação com Julio de forma improvisada, com aplicativos de tradução no celular.

“Eu falava em português, o aplicativo no telefone traduzia para o espanhol e eu dava o aparelho para ele ler. Foi bem complicado no começo, mas depois pude entender bem o que ele falava e precisava. Quando soube da história, no mesmo momento me compadeci com as necessidades e me comprometi a tentar ajudá-lo”, relembra o agora amigo.

Com auxílio da internet, Lindomar passou então a buscar mais informações sobre a migração venezuelana e a resposta humanitária brasileira com a Operação Acolhida. Durante as buscas, localizou a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e teve conhecimento sobre o trabalho realizado em apoio à Estratégia de Interiorização do Governo Federal.

Bastou uma ligação e a informação sobre a situação da família para que nos dois pontos extremos do país, de Norte a Sul, se iniciasse uma série de ações para que o casal pudesse recomeçar a vida, mas desta vez, juntos.

Ao localizar Laura no abrigo BV-8, no município fronteiriço de Pacaraima, a OIM apoiou nos trâmites necessários para que mãe e filha estivessem devidamente documentadas e inscritas para a viagem de interiorização. Com o processo aprovado, fez-se a compra das passagens aéreas e terrestres para que pudessem chegar até São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre.

Laura, que também é surda e muda, conseguiu se comunicar durante todas as etapas em Roraima com o apoio de um funcionário da OIM que tem conhecimento da Língua de Sinais Venezuelana.

“Conseguimos resolver a situação da Laura rapidamente e foi muito satisfatório com o conhecimento básico que tenho da língua de sinais poder ajuda-la. Sinto gratidão de ter contribuído na mudança da vida dessas pessoas”, comentou Eduardo, funcionário da OIM que é venezuelano e aprendeu a língua de sinais depois que chegou ao Brasil, em uma capacitação oferecida pela Pastoral do Surdo em Boa Vista.

O abraço do reencontro que chegou naquela madrugada não teve só os passageiros que compartilharam o trajeto final em ônibus com Laura como testemunhas. Lindomar também estava presente. “Laura e Julio não falam, mas nessas horas não precisa. É possível ter certeza que estão felizes por tudo isso”, relata.

Foto da família reunida
Foto: Arquivo pessoal

Finalizando essa etapa de transição e abrindo um novo capítulo da vida, Julio agora inicia um trabalho de carteira assinada em São Leopoldo. A família também conseguiu um apartamento para viverem juntos, onde poderão acompanhar de perto os primeiros passos da pequena Ashley.

As atividades da OIM na estratégia de interiorização são realizadas com apoio financeiro do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América.