Prenelise Nozé, de noventa anos, costumava sentar-se no lado de fora olhando seus netos brincarem, inclusive na manhã de 14 de agosto, quando um terremoto de magnitude 7.2 destruiu sua casa. Ela foi nocauteada quando sua casa desabou. “Minha filha me socorreu e me colocou em segurança”, diz ela. "Não sei onde estaria sem ela." 

Prenelise ouvia com frequência as pessoas falarem sobre terremotos e até já vivenciou alguns, mas nenhum tão devastador e traumático quanto o do mês passado – um dos mais fortes que já atingiu o Haiti. A cidade de Cavaillon no departamento de Sud, onde ela mora, junto com os departamentos de Grand’Anse e Nippes foram particularmente afetados. A casa de Prenelise é uma das 52 mil casas que foram destruídas, somando-se a outras 77 mil que foram gravemente danificadas.

Assim como muitos outros membros da comunidade no Haiti, Prenelise nasceu e cresceu na casa que ela chamou de lar por décadas. O terremoto a roubou de seus pertences, incluindo seus móveis, louças e outros itens que ela tanto estimava e guardava há anos na esperança de passar adiante a suas netas.

Prenelise é uma das 800 mil pessoas necessitando de assistência emergencial após o terremoto do último mês. Foto: OIM/Monica Chiriac

A família de quatro pessoas agora vive em um abrigo improvisado que os netos de Prenelise construíram com destroços recuperados. Orgulhosa demais para pedir hospedagem aos vizinhos, ela espera receber em breve apoio para construir uma nova casa.

Milhares de outros haitianos estão desabrigados e encontrando refúgio em casas de vizinhos, abrigos improvisados, capelas ou locais de deslocamento informal. Mesmo antes do terremoto, milhares de pessoas já haviam se deslocado pela violência de gangues, enquanto outras ficaram desabrigadas pelas tempestades tropicais deste ano.

Enquanto alguns encontraram conforto imediato na família ou amigos, outros estão negligenciando as questões de segurança e voltaram a dormir em suas próprias casas. “Estamos mais confortáveis aqui e ainda vemos nestas duas paredes em pé a nossa casa”, diz Similiane, de 85 anos, vizinha de Prenelise.

Desde o terremoto, foram reportadas mais de 2.200 pessoas mortas, com centenas ainda desaparecidas e mais de 12 mil feridos. As comunidades onde os centros de saúde foram danificados agora estão lutando para ter acesso à assistência médica emergencial. Os deslocados vivem em condições precárias, expondo-se a doenças infecciosas como cólera, diarreia e malária; e com menos de 1% da população vacinada contra a COVID-19, as preocupações com a saúde e as necessidades médicas estão crescendo a cada dia.Quase 1.500 pessoas com deficiência foram afetadas e precisam de assistência emergencial. Muitos estão traumatizados e precisam de suporte urgente de saúde mental. As equipes de proteção da OIM, incluindo psicólogos treinados, estão no local ajudando, com atenção especial às mulheres e crianças que são mais vulneráveis à exploração e abuso sexual. 

Muitas comunidades como a de Prenelise vivem em áreas de difícil acesso, geralmente limitado - e agora quase impossível - devido a pontes e estradas danificadas. Desde o primeiro dia, a OIM tem enviado caminhões por todo o país, percorrendo centenas de quilômetros para entregar itens essenciais de assistência.

O terremoto destruiu 52 mil casas e danificou outras 77 mil, junto com infraestruturas essenciais como estradas e pontes. Foto: OIM/Monica Chiriac

Como líder de questões de Abrigo, Itens Não-Alimentares e Gestão e Coordenação de Campo no país, a OIM criou um serviço de gasoduto comum aberto a parceiros para a entrega coordenada de itens domésticos e de abrigo. Trabalhando em estreita colaboração com o governo, incluindo a Diretoria de Proteção Civil do Haiti, as equipes da OIM já entregaram itens essenciais de assistência a mais de 100 mil pessoas. 

A OIM está apoiando o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações através da realização de avaliações estruturais para determinar se os edifícios podem ser reparados ou devem ser demolidos. Mais de 1.200 avaliações foram realizadas nos três departamentos desde 30 de agosto.Entre as centenas de escolas e centros de aprendizagem afetados pelo terremoto, está o College Saint Jean des Cayes - um edifício histórico que faz parte do patrimônio nacional do Haiti, no departamento de Sud. Duas de suas estruturas foram danificadas, enquanto uma terceira oscilou e quase desabou. Após a avaliação estrutural, o edifício foi considerado inseguro e, então, demolido. “Eu estava esperando por uma decisão desde o primeiro dia”, disse o diretor e pastor Jean-François Printemps, que agora está trabalhando lado a lado aos trabalhadores da construção para limpar os escombros. 

Caminhões da OIM percorrem centenas de quilômetros para oferecer assistência urgente. Foto: OIM/Monica Chiriac 

O diretor estava dentro do prédio em 14 de agosto, repintando as salas de aula em preparação para o início do ano letivo. “Percebi que era a única pessoa no último andar quando comecei a sentir o chão tremer”, diz ele. “Eu me agachei em um canto debaixo de uma mesa e rezei para sair vivo.” 

Com o novo ano escolar se aproximando, Jean-François precisa de salas de aula temporárias para 750 alunos que estão sem lugar para estudar. “É essencial que nos concentremos em encontrar soluções o mais rápido possível”, ele afirma.

A resposta de emergência da OIM é atualmente financiada pelo Escritório de Assistência Humanitária da USAID, pela Ajuda Humanitária e Proteção Civil da UE, pelo Escritório de Relações Exteriores e Desenvolvimento da Commonwealth e pelo Fundo Central de Resposta a Emergências da ONU.O terremoto, juntamente com as crises pré-existentes, exacerbou dramaticamente as necessidades humanitárias locais. Mais de 800 mil pessoas ainda precisam de assistência urgentes, enquanto os fundos também são necessários para esforços de recuperação de longo prazo focados em abrigo, apoio à saúde mental e prevenção da COVID-19.Para ajudar as pessoas afetadas, a OIM lançou um apelo urgente e uma página de arrecadação de fundos.Ajude-nos a ajudar mais. Faça sua doação hoje.