Boa Vista - O calendário marcava o dia 2 de agosto de 2017. Marco, com apenas 14 anos, acompanhado somente da mãe, Mercedes, chegou ao Brasil. Na lembrança está a memória da travessia para a primeira cidade que divide o território com a Venezuela, o município de Pacaraima, marcada pela quantidade de pessoas venezuelanas em busca de um recomeço.

Vindos da cidade de Valência, mãe e filho enfrentaram uma viagem incerta de três dias, mas também plena de determinação até chegarem à capital roraimense, Boa Vista.

Os primeiros anos foram marcados por desafios, a barreira do idioma dificultava a integração e eles moraram na casa de conhecidos enquanto faziam economias. Mercedes, advogada na Venezuela, começou vendendo bolos pelas praças para sustentar os dois. Marco, retomou os estudos, mas também ajudava nas vendas até conseguir um emprego em um supermercado local, que foi possível graças a ter seus documentos regularizados no Brasil.

Decidido a ajudar outras pessoas refugiadas e migrantes como ele, começou a atuar na área humanitária como voluntário para levar saneamento, água e recursos de higiene para a população em deslocamento. Depois, apoiou na manutenção de contatos entre famílias que vieram para o Brasil e as que ficaram na Venezuela.

Foi nesse caminho que Marco conheceu a OIM, Agência da ONU para as Migrações, onde trabalha atualmente na área de Documentação. Essa é uma das áreas de atuação da Organização no âmbito da Operação Acolhida, resposta humanitária do governo brasileiro ao fluxo venezuelano.

Sua atividade permite apoiar as pessoas que optam pela residência no Brasil, ele dá suporte para a emissão de documentos essenciais no Brasil, como o Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), carteira de identidade, cartão de Serviço Único de Saúde (SUS) e educação. A cada atendimento, o sentimento é que o serviço não se limita à burocracia dos registros, mas que transforma vidas.

“É um trabalho que eu gosto muito, é uma parte da migração que às vezes a gente não percebe, que é a de saber quão importante é ter documentos para fazer nossas atividades, exercer nossa cidadania. Antes, não tinha esse conhecimento, pois cheguei no Brasil ainda jovem, mas hoje vejo como ter sua situação regularizada muda a vida de quem precisa”, diz Marco, com a voz de quem fala por experiência própria.

Os registros que o jovem venezuelano realiza no seu dia a dia se somam aos mais de 500 mil já realizados pela OIM em Roraima desde 2018, sendo mais de 48 mil apenas em 2024 no município fronteiriço de Pacaraima.

Marco, agora já residente permanente no Brasil e formado como técnico em Administração, ingressou este ano no curso de Jornalismo na Universidade Federal de Roraima (UFRR) após passar no vestibular.  A unidade de ensino é a mesma em que a mãe sonhava em estudar, e assim como o filho, conseguiu, se tornando universitária no curso de Pedagogia.

“Acho que eu consegui me superar apesar de certas dificuldades ao longo desse tempo, mesmo sendo uma experiência difícil, tentei ter uma perspectiva diferente, tentei levar de uma maneira que transformasse estar aqui em algo positivo”, afirma.

“O Brasil me deu a chance de recomeçar. Hoje, quero ficar aqui e construir minha vida. É onde me vejo no futuro” conclui Marco, com o sorriso de quem sabe que o amanhã pode ser cheio de esperança.

Dia Internacional dos Migrantes – A campanha do Dia Internacional dos Migrantes de 2024, “A cada passo”, lembra a importância das vias para a migração regular. Assim como na história de Marco e Mercedes, a documentação e a regularização de pessoas migrantes são essenciais para aumentar suas oportunidades, contribuindo para o desenvolvimento sustentável dos seus locais de origem e dos que as acolhem.

A OIM acredita que a regularização de pessoas migrantes desbloqueia oportunidades para o progresso e a prosperidade dessas pessoas e das comunidades que as recebem, garantindo acesso justo a direitos e construindo sociedades mais fortes e inclusivas. Juntos e juntas – a cada passo – podemos avançar em direção a um mundo onde os direitos humanos e a segurança das pessoas migrantes sejam plenamente protegidos, e onde todas tenham uma chance melhor de prosperar.