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Perfil dos venezuelanos na América Latina e no Caribe revela variações de país para país

Uma nova análise de dados feita pelo Migration Policy Institute (MPI) e OIM revelou diferentes perfis socioeconômicos e condições de vida dessa população

Mais de 4,3 milhões dos estimados 5,2 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos que deixaram o complexo cenário sócio-político e econômico de seu país permanecem na América Latina ou no Caribe. Embora os movimentos tenham se espalhado por toda a região, eles estão longe de ter caráter homogêneo.

Uma nova análise dos dados da Matriz de Monitoramento de Deslocamento (DTM, na sua sigla em inglês) de refugiados e migrantes venezuelanos pelo Migration Policy Institute (MPI) e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), por meio do Escritório do Diretor Geral da OIM e Enviado Especial para a Resposta Regional à Situação da Venezuela, revela diferentes perfis socioeconômicos, condições de vida e futuras intenções em relação ao estabelecimento no país de acolhimento ou posterior viagem.

A partir dos dados da DTM com base nas estatísticas governamentais compiladas e analisadas pela Plataforma de Coordenação Regional (R4V), que é co-liderada pela OIM e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), o informativo oferece um perfil dos refugiados e migrantes venezuelanos presentes em 2019 em 11 países da América Latina e do Caribe, examinando sua demografia, níveis de educação, emprego antes e depois da migração, envio de remessas, condições de saúde e padrões de mobilidade, entre outras características.

“Desde março de 2020, com o início da pandemia de COVID-19, os despejos, a perda de empregos, a impossibilidade de acesso à saúde e educação e a impossibilidade prática na maioria dos casos de cumprimento das regras de distanciamento social e isolamento têm gerado significativos retrocessos na possibilidade de integração aos países de destino”, disse Eduardo Stein, representante especial conjunto de ACNUR-OIM para refugiados e migrantes venezuelanos.

Os venezuelanos que se dirigiram aos vizinhos imediatos da Venezuela – Brasil, Colômbia, Guiana e Trinidad e Tobago – tendem a ter menor nível de escolaridade do que os venezuelanos que se mudam para outros países mais distantes, são mais propensos a serem mais jovens e solteiros e relatam acesso mais restrito à saúde e a serviços de saúde mental. A maioria manifestou a intenção de permanecer nesses países.

Aqueles que viajaram para países próximos, mas não adjacentes – Equador e Peru – também tendem a ser jovens, mas mais de um terço possui um diploma técnico ou superior.

O grupo final, que se mudou para destinos mais distantes – Argentina, Chile, Costa Rica, Paraguai e Uruguai – é em média mais velho e relatou níveis particularmente altos de realização educacional, com metade ou mais com bacharelado ou mestrado.

Diego Beltrand, enviado especial do diretor-geral da OIM para a resposta regional à situação da Venezuela, disse: “como parte da resposta à situação de emergência de refugiados e migrantes da Venezuela, desde 2017 a OIM recolhe dados intersetoriais sobre esta população, o que foi fundamental para garantir que as partes interessadas nos níveis nacional e regional possam tomar decisões baseadas em evidências, e isso também foi útil como um contributo para o Plano Regional para Refugiados e Migrantes.”

Em todos os 11 países, os entrevistados relataram possuir uma variedade de status, refletindo as diferenças em seus perfis, bem como as políticas diversas e amplamente acolhedoras que os países da região elaboraram para lidar com um dos maiores fluxos migratórios do mundo. Percentuais notáveis ​​de venezuelanos em Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai descreveram ter obtido residência, status de solicitante de refúgio ou refugiado, enquanto o Equador parece ter a maior proporção de migrantes irregulares entre os países da amostra.

Dado que os países receptores agora enfrentam o desafio de atender às necessidades dos refugiados e migrantes venezuelanos, bem como das comunidades anfitriãs, ao mesmo tempo em que administram a crise de saúde pública da COVID-19, há uma necessidade urgente de dados oportunos e precisos sobre as características e vulnerabilidades dessa população. A DTM da OIM coleta dados intersetoriais para ajudar a preencher a lacuna para os formuladores de políticas, agências da ONU e outras partes interessadas.

“Precisamos de bons dados para orientar as decisões dos governos, organizações da sociedade civil e da comunidade internacional para que possamos transformar uma crise de fluxo misto, especialmente no meio da pandemia de COVID-19, em uma oportunidade de longo prazo para a região, aproveitando o talento e as habilidades dos refugiados e migrantes venezuelanos que se mudaram para outros países do hemisfério”, disse o presidente do MPI, Andrew Selee.

Entre outras descobertas da análise dos dados da DTM:

A duração média das viagens dos entrevistados aos seus destinos variou de dois meses e meio para viagens a Colômbia, Guiana e Peru a sete meses e meio ou mais para viagens a Argentina, Chile, Costa Rica e Paraguai.

Os desafios enfrentados durante a viagem que foram mais comumente relatados nos 11 países, em ordem de frequência, foram falta de recursos financeiros, escassez de alimentos, falta de um lugar para dormir, insegurança, falta de transporte, problemas com documentos de viagem, falta de informação e preocupações com a saúde. Na Guiana, 80% dos entrevistados expressaram preocupação com a insegurança alimentar, enquanto 91% na Colômbia tiveram problemas financeiros durante as viagens.

Parcelas significativas de entrevistados em vários países pesquisados ​​relataram ter acessado serviços de saúde: Brasil (87%), Chile (80%), Paraguai (61%), Costa Rica (59%) e Trinidad e Tobago (57%). Em contraste, 62% na Guiana relataram não ter acesso.

Poucos entrevistados disseram que pretendem retornar à Venezuela; em todos os países, exceto a Colômbia, 5% ou menos indicaram a intenção de voltar. Enquanto 17% na Colômbia declararam que pretendem voltar, 58% disseram que planejam permanecer na Colômbia e 24% expressaram desejo de seguir para outro destino. Para os demais dez países, mais de quatro quintos disseram que planejam permanecer onde estão.

Muitos relataram o envio de remessas ou outros recursos para dependentes na Venezuela. Quase três quartos dos entrevistados em Trinidad e Tobago, 56% no Equador e 53% no Paraguai o fizeram. As proporções foram menores na Argentina (26%) e na Costa Rica (21%).