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Mulheres refugiadas e migrantes reforçam presença feminina no setor de tecnologia da informação

Rio de Janeiro - "As mulheres estão crescendo no setor de tecnologia da informação e isso é muito bom, porque nós aportamos conhecimento e outras perspectivas." O recado é da venezuelana Karen V., a mais nova programadora a ganhar espaço numa área que, embora ainda demasiadamente masculina, vê a balança de gênero se equilibrar dia a dia.

Moradora do Rio de Janeiro, ela trocou o emprego como vendedora de uma loja de roupas em março de 2021 para trabalhar de casa como analista de sistema júnior da Raízen, empresa integrada de energia, baseada no estado de São Paulo. Se a presença das mulheres é uma marca cada vez mais forte no setor de tecnologia da informação (TI) brasileiro, agora é a vez das mulheres refugiadas e migrantes. 

No caso de Karen, a jornada até o novo emprego começou no curso de desenvolvedores full stack da Toti, organização que capacita venezuelanos e migrantes de outros países vizinhos ao Brasil, no âmbito do Projeto Oportunidades, desenvolvido pela Organização Internacional para as Migrações (OIM). A iniciativa, capacitou, entre setembro e dezembro do ano passado, 21 beneficiários que vivem nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo em situação de vulnerabilidade.

Os participantes, mais da metade mulheres, tiveram aulas de desenvolvimento web back-end e front-end, ou seja, aprenderam linguagens de programação para construção de páginas na internet e de plataformas online, por exemplo, entre outras habilidades técnicas.

"Na Venezuela, fiz faculdade de design gráfico, mas sempre tive vontade de aprender na área de tecnologia e achei o curso da Toti interessante para complementar minha carreira. Os professores são ótimos, atenciosos, e a forma como eles ensinam é bem prática", elogia a venezuelana.

Próximo do final do curso, a equipe da Toti entrou em contato com quase 100 empresas brasileiras para conectar os profissionais capacitados às vagas disponíveis no mercado. Karen foi encaminhada para participar do processo seletivo da Raízen, passou por duas entrevistas e foi contratada. "Estou muito feliz! Chorei, gritei, foi difícil acreditar, mas aconteceu", celebra a contratada.

Pedro Leal Noce, gerente de área de Digital e Inovação da Raízen, diz que o equilíbrio de gênero no setor de TI está longe de ser uma questão resolvida, mas que a empresa desenvolve uma política de diversidade ampla, de forma a atingir vários grupos subrepresentados na tecnologia. A partir dessa perspectiva, o contato com a Toti ajudou a ampliar o olhar para a população migrante.

"A diversidade cultural chamou muito a nossa atenção no processo seletivo, porque trouxe pessoas de outras realidades geográficas, econômicas e políticas, com formações muito distintas e uma variedade de soft skills muito importante", explica o gerente, que também contratou um profissional chileno capacitado pela Toti e hoje defende que a integração laboral de migrantes é benéfica para todos.

"Dá uma satisfação pessoal ver que você pode impactar a vida dessas pessoas com ações até simples, apenas tendo um olhar mais aberto para um processo seletivo. E percebemos que o engajamento deles junto à Raízen é muito grande."

Para o coordenador de projeto da OIM no Rio de Janeiro, Diogo Felix, a população migrante e o setor de tecnologia da informação formam um casamento perfeito. "São pessoas que estão sempre buscando soluções criativas para os desafios do cotidiano, trabalhando em uma área que exige constante inovação e profissionais que pensam fora da caixa”, destaca.

“Nosso desejo é permitir que cada vez mais os migrantes possam contribuir com seus conhecimentos nesse setor tão importante para a economia do século 21, com uma participação feminina cada vez maior. A integração econômica das venezuelanas e mulheres migrantes de países vizinhos ao Brasil é uma das prioridades do projeto Oportunidades", complementa Félix.

Karen não foi a única a conseguir um emprego no setor de TI em 2021. Yairina, sua compatriota que também vive no Rio de Janeiro, foi contratada pela Iteris, empresa de tecnologia baseada em São Paulo. Outras sete mulheres venezuelanas e migrantes de outras comunidades capacitadas pela Toti estão participando de processos seletivos em cinco empresas diferentes.

No caso de Karen, a oportunidade significa uma grande transformação em sua vida no Brasil. Enquanto o antigo salário de vendedora lhe fornecia apenas o suficiente para sobreviver, o novo trabalho lhe permitirá uma geração de renda 140% maior e, com isso, a realização de alguns sonhos.

"Tenho quase dois anos no Brasil e pouco comprei para mim. Quase tudo que ganhava eu mandava para meus pais na Venezuela. Depois fazia mercado e pagava aluguel. Agora quero cumprir meus sonhos. Mais para frente, quero ser mãe, formar uma família. Hoje consigo pensar no futuro”, finaliza Karen.

Essa iniciativa é realizada no marco do projeto Oportunidades, implementado pela OIM com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).